1 de julho de 2015

A Revisão do Plano Diretor de Botucatu. 4 – Botucatu: escolhas ou sobras?

 Botucatu: escolhas ou sobras? (por Pôla Pazzanese)


Imagem do Google
Na conclusão dessa série de postagens sobre o PDP 2015 de Botucatu iremos apurar alguns pontos fundamentais para levarmos a discussão adiante e, principalmente, a tempo.
1- Uma boa parte das dificuldades que todos encontram no seu dia-a-dia ocorre por falta de definição clara do que se deve e do como se deve fazer. De pequenas questões localizadas a temas maiores que afetam a muitos. E nos problemas de grande influencia para grupos maiores de pessoas, como em políticas públicas, isso também ocorre por se confundir o debate e o esclarecimento, necessário nas decisões democráticas, com questões e disputas pessoais, constrangedoras nas relações sociais, evitando assim se estabelecer limites e procedimentos claros em assuntos que afetarão a todos depois. E isso faz com que muitos problemas do dia-a-dia se prolonguem desnecessariamente: de uma sala de aula a um sistema educacional, de um consultório a um sistema de saúde e saneamento, de uma loja a um sistema de logística, de um escritório a um sistema empresarial, de um jardim a uma paisagem, de uma casa a uma cidade.
2- Por isso, mesmo com o pouco tempo para participação, é muitíssimo importante que o maior número possível de pessoas saiba e participe desse processo. Com um plano que só atende parcialmente as necessidades da cidade e território e mesmo que dure poucas gestões de governo, todos sofreremos suas consequências. Apenas no caso aqui da Demetria, aparentemente tão isolada da cidade, por exemplo, só entre 2008 e 2013, 5 anos apenas, a cidade avançou metade do caminho do Jd. Aeroporto até ela: Com loteamentos segregadamente "populares" (ver postagens anteriores), no que é uma Zona de Interesse Socioambiental, cujo parcelamento é de 4.000 m2 por razões ambientais. E é um bairro com muita gente que mora, estuda, trabalha, frequenta, usufrui etc., com plena condição de saber mais, colaborando assim para a manutenção (ou defesa? ou desenvolvimento?) de suas tão decantadas qualidades.
3- Como se trata de uma revisão do Plano existente, é fundamental uma comparação entre ele e a proposta de mudanças de agora. Para tanto, precisamos de mais tempo para que mais pessoas e instituições possam vê-los lado a lado. A proposta atual de tratar a cidade por Eixos, por exemplo, dificulta a compreensão do que, como, aonde e porque será modificado o existente.
4- Diversos setores da sociedade não estão devidamente representados, ou não foram devidamente consultados, nos levantamentos e decisões dessa revisão. Pessoas, grupos e setores ativos na Educação, Saúde, Agricultura, Arquitetura e Urbanismo, Ambiente etc., podem e devem ser ouvidos, pois muitos contam com trabalhos relevantes na história e desenvolvimento da cidade e da região. É justamente numa hora como essa que muitas contribuições, embasadas por anos e anos de experiências de aplicação na realidade e reflexão sistemática, podem ser agregadas às políticas públicas de Botucatu.
5- O bom trabalho de coleta e análise de dados que embasa essa revisão precisa ser mais completo e levar em conta dados de pesquisas e estudos que estão à disposição: eu mesmo tive acesso a diversos deles, durante a pesquisa para estas postagens, que nota-se que não foram tomados como fontes. Devemos buscá-los e trazê-los para referenciar melhor as análises e embasar mais adequadamente diversas estratégias de gestão e a consequente proposição de leis.
Com isso, aquelas imagens da 1ª postagem dessa série começam a ficar muito mais próximas de serem realizadas.
Como disse um amigo recentemente, "... quero uma velhice de escolhas, não de restrições...". Falava de suas decisões sobre cuidados na saúde mental e física, aparentemente desnecessários dada sua jovem idade. Futuros, pessoais ou coletivos, também são uma questão de escolhas. Escreve aqui um ex-paulistano que adotou Botucatu como seu lugar porque viu aqui na cidade e região muitas coisas boas acontecendo ainda, e perdidas em Sampa por pura ganância imediatista. Conhecendo como era e o que houve, como conheci, não tem como ficar quieto diante das nefastas consequências das escolhas erradas para um lugar: Minha ex-cidade, antes lindamente banhada em águas, agora inundando e sem água? Precisamos mais do mesmo?
É de escolhas nosso caso em Botucatu, nessa hora: Entre uma cidade que respeita seu passado, desenvolvendo suas tradições de modo dinâmico, em vez de enterrá-lo em homenagens post mortem; entre uma relação com a terra com o conhecimento contemporâneo sobre pessoas e seu ambiente, em vez de tratá-la como mero estoque de negócios; entre um modo de vida urbana focado no desenvolvimento da comunidade, em vez de suporte para o consumismo de modas; enfim, entre buscarmos as soluções corretas, mesmo que inicialmente distantes, ou atender a conveniências pessoais de momento - e nada termos a dizer a filhos e netos quando, no futuro, nos perguntarem como pudemos deixar que acontecesse daquele jeito, se...

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Pôla Pazzanese, arquiteto urbanista (1981), escritório próprio (1980), arquiteto EDIF-SSO-PMSP (1982/84), professor da disciplina ´projeto arquitetonico´ (1991), um dos fundadores, 1º coordenador pedagógico, professor das disciplinas ´infraestrutura urbana e predial´ e orientador ´TFG´ da faculdade de arquitetura ´escola da cidade´(1996/2008), projetos de arquitetura de interiores, edificações e desenho urbano, nas áreas de habitação, educação, serviços, comércio e patrimonio histórico.


*1- ATENÇÃO: O Instituto Botucatu  irá promover, durante julho de 2015, 3 encontros abertos para quem se interessar em ampliar seus conhecimentos sobre os assuntos aqui tratados. Avisaremos aqui no blog Alô Bairro Demétria! assim que fecharmos as datas com os palestrantes. Salientamos, contudo, que todos já estão com sua participação confirmada. Aguardem as datas!

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